"Qual é a justiça da qual o Cristo nos quer sedentos e
famintos? Trata-se da justiça que em inúmeras passagens do Antigo Testamento é
praticamente sinônimo de salvação — noutras palavras, libertação do mal e união
com Deus. Esta justiça, portanto, nada tem a ver com o que comumente pensamos
como virtudes morais ou boas qualidades, não se relaciona com o bem em oposição
ao mal, nem com a virtude em oposição ao vício; trata-se da justiça absoluta,
da bondade absoluta. O faminto e sedento de justiça de que fala o Cristo é o
faminto e sedento do próprio Deus.
Já se salientou que a maioria de nós não quer de fato Deus.
Se nos analisarmos, descobriremos que nossos interesses relativos a Deus quase
nada têm da força do nosso interesse por todo tipo de objetos materiais. Mas
até mesmo um ligeiro desejo de conhecer a realidade divina é um começo que nos pode levar mais acima.
Precisamos começar com um esforço próprio. Precisamos
batalhar para desenvolver o amor ao Senhor, praticando a relembrança dele, rezando,
adorando e meditando. À medida que praticarmos essas disciplinas espirituais, o
nosso frágil desejo de compreendê-lo há de intensificar-se, até se converter em fome violenta, em sede ardente.
Àqueles que lhe
perguntavam como compreender Deus, Sri Ramakrishna dizia:
''Gritem-lhe com um coração anelante, e então vocês o verão.
Após a luz rósea da aurora, surge o Sol; do mesmo modo, ao anelo segue-se a
visão de Deus. Ele se revelará a vocês se vocês o amarem com a força combinada
destes três apegos: o apego do avaro à sua riqueza, o da mãe à criança
recém-nascida e o da esposa virtuosa a seu marido. “O anelo intenso é o caminho
mais seguro para a visão de Deus.”
Precisamos aprender a direcionar todos os nossos pensamentos
e toda a nossa energia, de forma consciente, para Deus. É preciso que se erga
em nossa mente uma onda gigantesca de pensamento, envolvendo todos os desejos e
paixões que nos desviam da meta espiritual. Quando a mente se torna focalizada
e concentrada em Deus, então seremos locupletados de justiça.
— Venha — disse o mestre —, vou lhe mostrar.
O mestre levou o discípulo a um lago e ambos mergulharam. De
repente, o mestre chega ao discípulo a afunda-lhe a cabeça na água. Momentos
depois, o solta e pergunta-lhe:
— Então, como se sentiu? — Oh, eu quase morri de falta de ar — disse ofegante o discípulo.
Então o mestre retrucou:
— Quando você tiver essa mesma sensação intensa por Deus,
não precisará mais esperar muito pela visão dele."--
In Sermão da Montanha segundo o Vedanta. Swami Prabhavananda. São Paulo: Pensamento, 1986. p. 26 e 27.
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